domingo, 1 de janeiro de 2012

O Fim

Ora aqui estamos um ano depois do objectivo que nos propúnhamos a cumprir. Um post por dia durante um ano. Entre textos de vários estilos, ilustração, desenho, fotografia e até vídeo muitas foram as formas de expressão que fomos encontrando. Um ano passou e nós aqui e em muitos outros sítios. Pelo blogue, pelas republicações no Facebook, Twitter, Google+ e muitas outras de plataformas, também foram muitas as reacções.

Hoje é o fim de um novo início. Este Almanaque fica aqui de arquivo ou recordação, para voltarem sempre que quiserem. Outros projectos virão mas este tem agora o seu ponto final.

Por último agradecer à Coumpa Wolf por ter embarcado nesta aventura e a todas e todos que nos seguiram, comentaram, apreciaram, gostaram ou não, corrigiram e que sempre interagiram connosco, também um grande obrigado.

sábado, 31 de dezembro de 2011

365


As palavras só existem para lhes podermos trocar a ordem das letras.
As letras só existem para podermos brincar com elas e com as palavras.
As palavras só existem para nos podermos calar.
Os silêncios só existem quando há alguma coisa para dizer.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

364

Aquela estranha sensação de olhar para uma foto e ver pessoas com as quais tivemos de certeza uma parte da nossa história em comum mas que hoje em dia somos incapazes de reconhecer ou até mesmo, e com muito esforço, recordar o seu nome. Sinto-me diferente ao olhar para todas as páginas que escrevi, aquelas que tem seguimentos lógicos ou aquelas soltas, palavras que foram despejadas em guardanapos ou em restos de papel esquecidos muitas vezes pelos bolsos e só mais tarde recuperados para o meio de outros tantos já armazenados numa bolsa plástica qualquer. Choro ao olhar para as fotografias esquecidas em caixas e desalinhadas da sua linearidade temporal. Choro porque já não sei quem são aquelas pessoas ao meu lado, a sorrirem, a cumprimentarem-me, com um ar cúmplice em relação a mim como se fossemos ficar assim para sempre trespassando o tempo da própria fotografia.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

362

O que lês agora é já passado na escrita. A novidade que se aproxima com a mudança que não controlas rapidamente é passado. A habituação aos dias e aos quotidianos é quase imediata e de repente tiram-nos tudo. A facilidade em perder coisas é natural, faz parte de nós como se fosse quase condição humana.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

360

Não há pior situação do que acordar, de repente múltiplos sonhos que se esvaem em nuvens de fumo, tudo se perde, tal qual se deixássemos um papel escrito à chuva, as palavras a perderem-se e o papel a derreter e o máximo que podemos fazer é esperar que ele seque e tenha conservado algo, uma réstia de esperança por cada gota de tinta. 

Sinto-me tão sozinho e sinto um frio estranho que me percorre todo o corpo, uma sensação de vazio, uma sonolência que invade. Todos os dias acordo, todos os dias morro mais um pouco, gostava de não ter que voltar a sentir, dormir e sonhar para todo o sempre. Infinitamente adormecido.

domingo, 25 de dezembro de 2011

359

Aqueles sons que se omitiam junto de ti, aquelas músicas que te têm nas letras e nos acordes. A dor de recordar bons momentos é realmente algo complicado de perceber. Olhava para toda aquela gente a dançar numa ânsia de largarem os restos de mundo exterior que os perseguiam, notava-se a pretensão de soltar todas as raivas e fúrias, largar no esquecimento um dia maus no trabalho, uma discussão familiar e eu queria tanto ser como eles. Queria chegar aqui e ter a facilidade de me soltar assim também, de deixar todo o mundo para trás.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

355

Seria tão mais fácil que a palavra escrita gozasse de tanta frontalidade como as palavras que dizemos olhos nos olhos. Não teríamos de ultrapassar aquele aperto de barriga quando os dois corpos, próximos, tão próximos que por vezes se tocam. Voluntária ou involuntariamente uma mão passa na outra, um toque no cabelo, na face ou as pernas que se cruzam debaixo de uma qualquer mesa. Forçamos tantas vezes esse toque ocasional. Tão ocasional e tão especial que tem um sabor de vitória que se celebra solenemente numa solidão incompreendida porque a situação é estranha e desconhecida. O deslumbramento ocasional com as situações mais banais que chega a ser ridículo pelas formas que encontramos para encaixar essa pessoa no nosso quotidiano.